quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Team Edward


Jacob Jankowski olhava a paisagem que se descortinava diante de seus olhos e não podia acreditar na sua sorte.

Ele estava sendo irônico.

Fugir de uma Europa em recessão e com uma fascinação por grandes ditadores para cair numa américa em recessão foi uma das  decisões mais incrivelmente estúpidas que ele havia tomado na sua vida.  Não que tivessem sido muitas... mas parecia que uma nova era de más decisões para começar.  
.



Clandestino em vários trens, este em que se encontrava era apenas mais um que atravessava o país, numa paisagem de desemprego, desespero e ilegalidade que, na verdade, não lhe causava estranhamento. Desemprego, desespero e ilegalidade eram também o estado de sua alma, então  os dois – homem e paisagem – se sintonizavam perfeitamente.

Jacob apagou seu cigarro com cuidado para não sobrar uma faísca que incendiasse o feno no vagão. Levantou-se, espiou mais uma vez a paisagem e 
seguiu para o vagão em que estava escondido há cinco dias.





Nisso ele dera sorte. Não, palavra inadequada. Mais que sorte, ele fora abençoado por todas as estrelas que brilham no céu. Ao quase ser descoberto clandestino no trem, correndo pelos corredores do vagão de cabines, ele encontrou sua salvação pelos reflexos rápidos e generosidade da criatura mais fantástica que havia conhecido até então.

Maude tinha quase oitenta anos, e não planejava viver além dessa idade. Seguia, no trem, para o seu último destino, o local em que escolhera morrer: à beira mar, sozinha com suas lembranças e uma incrível experiência de vida. Com uma vivacidade inacreditável, um sorriso esperto e uma aversão a 
qualquer tradição, Maude salvara a vida de Jacob, e em mais de um sentido. O que ela fez por ele, naquele vagão, naquele instante e nos dias subsequentes,  permaneceria em Jacob pelo resto de sua vida, e permitiria a ele ver a vida e as pessoas que cruzassem seu caminho de outras formas. 





Andando com cuidado pelo vagão, ele bateu na porta da cabine de Maude e, ao seu sinal, entrou. Sentada numa poltrona à beira da janela, ela lia um dos muitos livros que trouxera consigo. Tentara engajar Jacob na leitura, mas ele preferia apenas observar e absorver a energia que esse ser surreal irradiava. Criava, ao observa-la lendo, outras narrativas, outras tramas e finais para a sua própria história. Quando ela cansava de ler, deixava o livro por perto, em seu colo, e enchia Jacob de perguntas – sobre seu país de origem, sua vida, seus pais, sonhos, suas buscas. O questionamento se transformava, então, em conversa e confissões. Descortinando sua vida e angústias, os dois se tornaram, em três dias, grandes amigos.

Mais um dia, e se tornaram amantes.

Jacob vivia em outra esfera da realidade, alheio ao país em que se encontrava, às convenções sociais que haviam ditado suas ações até agora, ao medo diante do futuro incerto. Seu mundo com Maude parecia rejeitar todas as restrições. Sem se preocupar com o que aconteceria na próxima curva, ele vivia  intensamente o que a vida havia lhe trazido naquele instante. 


O trem continuava seu percurso, por paisagens e cidades devastadas pela recessão. No entanto, ali, em mundos particulares separados por paredes não muito grossas, a vida seguia o mesmo ritmo do trem, devagar e constante, monótono e contínuo... mas cheio de surpresas, como as mudanças da paisagem.

Um mundo que teria seu ritmo interrompido sem aviso.

Tudo ocorreu de forma muito confusa, como a violência é mestre em ser. E rápido, porque a brutalidade não obedece a relógios. Jacob não conseguia se lembrar, depois, por que saíra da cabine. Talvez para fumar ou se movimentar. A parada brusca do trem o alertou para o perigo. Estava distante da cabine e demorou para alcança-la. Correndo pelos diferentes vagões, via, pelas janelas, o terror do cenário que se descortinava nos espaços de vidro entre as paredes: o ataque a pessoas do trem, tiros, violência, gritos. O trem estava sendo atacado e ele não podia fazer muito além de correr para  a sua cabine à procura de Maude. Mesmo nesse momento, ele já sabia que não havia muito o que fazer.

Mas ele chegou tarde. Lá estava ela, em sua cama, com os olhos vidrados que fitam o nada. Sangue em toda parte, Jacob não conseguiu se concentrar em identificar a origem da ferida. Para ele, ela englobava tudo: Maude, a cabine, ele mesmo e a paisagem ao redor.


Encontrar Maude fora inacreditável, amá-la fora inesperado. Sua perda, uma explosão na alma.




Ao olhar pela janela, uma figura se distinguia de outras. O responsável pela insanidade do ataque se dirigia ao trem, e ele saiba que, por alguma razão, era ele, Jacob, que o homem procurava. Sem muito o que esperar, disse adeus a Maude e procurou uma saída do trem.

No meio dessa confusão e da violência do ataque, perguntaram-me: mas, espera aí, e Reese Whiterspoon? Ela não vai aparecer??? Calma, eu respondi. Ela realmente demora a surgir no filme. Nesse momento, sua imagem era clara para mim, montada em um elefante e indo em direção a Jacob, num olhar de relance a cenas futuras.



E quanta paciência se requer para contar uma história? O interesse do ouvinte apressa-se para o fim, adiante, correndo na direção das novidades. E o narrador encontra-se naquele momento ainda, preso na tragédia, com a imagem de Maude fixa na memória e na emoção.

Jacob encaminhou-se para a entrada do vagão e contemplou a multidão diante do trem: pessoas que arrastavam outras, homens carregando provisões, animais sendo retirados do trem. Poeira e gritos se misturavam na confusão e formavam outra paisagem para ele. No trem não havia como permanecer. Nem por quê. Ele desceu as escadas e encarou o horizonte. Era sua impressão ou havia um circo ao longe? Nessa impressão ele se fixou e em sua direção ele seguiu.

Desvinculando-se do mundo em que vivera nos últimos dias, ele caminhou despercebido no meio da confusão, fugindo de quemo procurava, procurando meios para escapar. Manteve o olhar fixo no horizonte, onde outra viagem inacreditável o esperava.




Água para Elefantes (Water for Elephants). De Francis Lawrence, US, 2011, adaptação do livro homônimo de Sara Gruen, que está me esperando na estante - ainda não o li. 

Esta foi outra história que veio de um sonho. Em flashes muito rápidos e confusos, sonhei com outro início para Água para Elefantes, filme com Reese Whiterspoon, Robert Pattinson e Chris Waltz. O sonho começou, na verdade, com Pattinson como o Edward de Twilight. Eu via fotos de Lua Nova – stills que não existem – e eu o via dizer como o último filme da saga, Breaking Dawn, era o melhor e como somente agora ele havia percebido que havia interpretado muito mal Edward. Arrependido de seu desprezo pelo personagem, ele 
propunha filmar os três primeiros filmes novamente...



Depois, de Edward passou para Jacob, e encontrou, num trem que atravessava os Estados Unidos, uma das personagens que eu mais amo nesta vida, a Maude de Ensina-me a Viver (Harold and Maude. Hall Ashby, US, 1971). Há mais ou menos dez dias esbarrei com a trilha do filme - linda, toda de Cat Stevens - e o filme não parou mais de gravitar ao meu redor. Foram vários sonhos, lembranças... elas não pararam, e logo Harold aparecerá por aqui..



Escrevi a história como o sonho surge para mim: mais sentimentos, impressões e emoção que informações e razoabilidade. De que país veio Jacob? Como Maude o salvou no trem? Para onde Maude se dirigia? Enfim, detalhes que constroem a história e os personagens, e os compõem em uma narrativa coesa, mas que o sonho, intenso nos sentidos que cria, parece considerar supérfluos. Eu tentei, sem ultrapassar o encanto que o onírico me trouxe, completar lacunas, deixar a história de Jacob, nesse novo começo, menos vaga...


4 comentários:

  1. Eu já tinha achado o máximo quando você me contou o sonho. Agora, eu mesma pude sonhar...
    Countdown: 25 days remaining!

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  2. Não sei porque, esse filme me escapou. Depois desse post, vou aguardar ansiosa que chegue na locadora.
    Boa semana,

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  3. Olá, Jô! Água para Elefantes passou despercebido para muitos no cinema. Como eu estava acompanhando notícias das filmagens, fiquei de olho quando entrou em cartar. Agora quero ler o livro que, ao que soube, é muito bacana e muiiiiiiiiiiito melhor que o livro!

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