Inacreditável pensar que, há um ano, eu passava a páscoa em meio a uma primavera ainda relutante em Hamburgo. Frio, neve, schnapps, irish guy. Idéias frenéticas para um almoço cinematográfico. Estágio para um emprego ainda incerto... Tudo isso pareceu muito longe na páscoa deste ano.
Rio. Sol, chuva, calçadão. De volta ao Brasil para dez dias de férias do emprego que agora está firme - estagiária não mais!!! -, resolvi passá-las não na minha cidade natal, mas no Rio de Janeiro. Peguei minha mãe, que não viajava há alguns milênios, e fomos para a cidade maravilhosa. Só por isso já valia a viagem. Está cada vez mais difícil passarmos algum tempo juntas, e essa oportunidade no feriado foi fantástica. A distância nos aproximou, ficamos mais amigas, e estar com a mother na páscoa foi muito especial.
Mas, fora isso, não me entusiasmei como imaginava. O que é muito estranho, porque amo o Rio. Reencontrei várias coisas de que gosto, conheci algumas novas. No entanto, apesar da excelente companhia e de estar na terrinha novamente, o encantamento que esperava não apareceu.
O Cristo me emocionou. Estar no bondinho de Santa Teresa em uma paisagem tão querida me fez feliz. Ver as asas delta em São Conrado me lembrou de quando eu saltei. Duas vezes na mesma semana. Uma experiência surreal, em que todos os pensamentos fugiram da minha cabeça – acho que pela primeira vez na minha vida – e eu era só sensação. Mesmo com a turbulência por que passamos, assustadora, eu não conheci, ali, medo ou ansiedade. Era só sensação, uma vivência inacreditável.
Sentar em São Conrado e ver as asas no céu é sempre muito bom. Mas dessa vez estava incrivelmente tumultuado, longe da paz que está associada ao voo para mim. Uma arara maluca, que aparentemente não sabia voar, “atropelou” uma asa delta, e a aterrissagem foi realmente turbulenta. Agitou toda a praia, que estava lotada. Foi divertido, mas logo entramos numa rotina, apesar de a viagem ser bastante curta.
O interessante foi conhecer um casal fofo no meio da bagunça - eles não estavam juntos ainda, mas dava para ver que isso ia mudar logo. Linda e Túlio - ele tinha um nariz lindo, adorei - passaram por umas aventuras conosco, mas logo foram cuidar da vida e procurar a sua arara - aquela mesma da confusão.
Adoro uma bagunça, mas preciso admitir que ela foi um pouco cansativa. Bom, eu estava realmente na contramão: queria sossego e fui justamente para a confusão. Por isso, apesar de tudo lindo, nada para colocar defeito, sinto que faltou alguma coisa. Para mim, tudo pareceu muito over, e aí a delicadeza se perdeu um pouco no que, a meu ver, se configurou como ansiedade para ser incrível. Apesar da companhia querida da minha mãe, Rio não me encantou. Não sei se a melancolia do feriado combinava mais com o frio de Hamburgo, mas nesta páscoa não me senti em casa de verdade. Talvez devesse ter ficado quietinha, embaixo das cobertas, lendo, ao lado da minha bookworm mother.
Ou, ainda talvez, o meu lugar seja outro. Pode ser que o desconhecido me mova mais. Vejo agora que Rio não era a minha viagem naquele momento. Uma pena. O reconhecimento de coisas queridas não me deixou tão feliz quanto achei que fosse ficar. Mas valeu a experiência, mesmo assim. Coisas boas surgiram em meio ao meu desânimo...
Rio é lindo, comovente, sincero. Apesar de não ter movido minha alma, valeu ter estado ali na páscoa. Sem listas, sem Soul Kitchen, sem Schnapps, mas na companhia querida da pessoa mais especial que eu conheço.
Páscoa que vem mando mais notícias!
Rio. Carlos Saldanha Us, 2011. No Kinoplex Platinun - mordomia boa - no sábado, antes da Páscoa, com a gordinha.
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