segunda-feira, 24 de outubro de 2011

An Ordinary and Happy Life


Antes de encontrar Shandurai em Londres, eu reencontrei outra pessoa muito querida, assim, sem esperar. O relato de Shandurai veio antes... mas o encontro que conto agora foi tão marcante quanto, mesmo que muito diferente.
Talvez tenha sido mais emocionante, pelas expectativas que gerou por onze anos. E por ser tão mágico quanto inesperado. Literalmente.


Um dia em agosto, andando por Londres, ao virar uma esquina, me vi, de repente, no Beco Diagonal.
Já ouviram falar? Diagon Alley, para falar como os ingleses, é uma região de Londres habitada por comerciantes bruxos. Você deve se lembrar de Harry Potter, creio eu. Ele também se espantou ao ver que, no centro de sua cidade, havia um lugar povoadíssimo, mas desconhecido da maioria dos londrinos. Na ocasião, ele estava acompanhado e teve em Hagrid um guia para tudo que era diferente. Eu entrei ali sozinho, subitamente, somente som as histórias de Harry como companhia.


Somente? As histórias são uma tremenda companhia...
Quando virei numa esquina e, assim, do nada, entrei no Beco, quase gritei. Fiquei parado alguns minutos, deslumbrado. Não precisava disfarçar o meu espanto ou extrema euforia de me encontrar ali. Os bruxos, por serem esquisitos por natureza, não repararam muito nas excentricidades deste que vos fala.  outros. E que surpresa eu poderia causar, parado, no meio da rua, goose pumps all over  meus braços, totalmente em choque pela minha boa sorte? E, afinal de contas, estranhíssimo que sou também, estava em casa ali.


Mesmo assim, por via das dúvidas, procurei caminhar pelas ruas do Beco Diagonal sem encarar as estranhas e maravilhosas criaturas que atravessavam meu caminho. As lojas eram incríveis, com mercadorias bizarras e interessantes por todo lado. Ordem não é uma obrigatoriedade para os bruxos, assim produtos eram expostos no meio das calçadas, mercadorias empilhavam-se sem uma categoria específica, e todos pareciam se entender muito bem  em meio ao caos. Definitivamente, eu estava em casa.

Algumas lojas eu conhecia das memórias de Harry. Ollivander’s Wand Shop, Jesus!!! Quase morri. O Sr. Ollivander estava ali, surpreendentemente bem, conversando com um garoto que o olhava fixamente, assustado, mas colocando toda a atenção de que era capaz em suas palavras. Lembro do encontro de HP com o Sr. Ollivander – “The wand chooses the wizard, Mr, Potter. It’s not always clear why. But I think it is clear, that you will do great things.” Harry também se assustou na ocasião, mas tudo fez sentido depois. A fila de novos alunos para Hogwarts na porta da loja era grande, e eu passei por ela com um sentimento misto de tristeza e esperança.
Outras lojas tenho certeza de que eram novas. Depois do sumiço de você sabe quem – nunca é demais prevenir, certo? -, o mundo dos bruxos passou por mudanças muito legais. Não que os problemas tivessem acabado, afinal, engraçadinhos metidos a lords of the evil sempre encontram ressonância neste e em outros mundos. Mas as coisas sem dúvida estavam mais tranquilas, com a vida acontecendo de forma que poderíamos chamar até de normal – se é que os bruxos podem ter normalidade associada a eles. Enfim.


Tudo isso eu pensava, comparando as memórias de HP com o que via, quando parei de repente, dei uns passos para trás e olhei a loja por que quase passei sem notar. Agora sim eu queria gritar mesmo, e um sorriso enorme e bobo grudou no meu rosto. Weasley’s Wizard Wheezes in fronte of me!!! Foi quase com reverência que abri a porta  e entrei no paraíso.
Um fantasma roxo com cabelos cor de laranja me saudou na entrada com um grito estridente de welcome hahahaha!!! Agora sim eu gritei de verdade, e logo depois caí na gargalhada. Aí você pensa que eu causei um estardalhaço... Capaz. Os sons na loja eram uma mistura de risos, gritos de surpresa, amigos chamando uns aos outros para mostrar as novidades. O meu grito se perdeu entre outros e fez parte da trilha sonora desse lugar  incrível.


A loja tem dois andares, com surpresas em todas as prateleiras, cantos, mostruários... há pegadinhas no chão, no teto, na escada para o segundo andar... Uma delícia.
E ali eu me perdi por algumas horas, em encantamento. Como não tinha dinheiro bruxo, e nenhuma conta secreta em Gringotts, só olhei. Mas já era uma festa.
Algumas figuras conhecidas eu vi ali. George, claro, mais velho, mas não mais sério, apesar da idade e das perdas por que passou. Ginny estava ali, correndo atrás de uma menina de cabelos ruivos, ameaçando colocá-la de castigo. Ron conversava com um grupo de garotos de uns onze anos, mostrando os novos sabores de Bertie Bott’s Every Flavour Beans, versão Weasley – eles gritam quando nós os mordemos...


Mas a surpresa maior estava no segundo andar, no fundo do grande salão, em meio a livros de jokes e pegadinhas, sentado a uma mesa repleta de livros de anotações e protótipos de novas invenções.
Ao me aproximar com cuidado, novamente reverente, eu perguntei bem baixinho: Harry Potter, is that you?


Ele levantou a cabeça das suas anotações com um sorriso. Os óculos tortos, alguns cabelos já brancos, rugas ao redor dos olhos, seu sorriso não era muito diferente da primeira vez que o vi. Meus olhos encheram de lágrimas, mas eu realmente tentei me controlar. Ele me reconheceu claro, e apesar de não nos vermos há um tempo, não havia se esquecido de mim.
Convidou-me para sentar e ficamos ali, um tempão, lembrando suas histórias. Afinal, foi por elas que nos aproximamos, e por elas eu costumo reencontrá-lo. Ao vivo, não foi muito diferente.
Sim, claro, eu tinha tantas perguntas, tanta curiosidade a respeito da sua vida após a última vez que nos vimos – em Kings Cross, num e encontro rápido e sinceramente curto para mim quando ele e Ginny se despediam dos filhos que iam para Hogwarts – que tive receio mesmo de atropelá-lo com minhas perguntas.


Assim, não consegui perguntar tudo o que queria. Muitas coisas ficaram sem saber, porque me dá um branco quando a emoção é demais. E ali ela estava explodindo.
Man, e eram perguntas. Quando o vi em Kings Cross, milhões de questões borbulhavam em mim. Depois de quebrar The Elder Wand em Hogwarts, o que aconteceu? Harry, Hermione e Ron voltaram para a escola? Como foram os casamentos??? Em que eles todos resolveram trabalhar, o que escolheram para fazer de suas vidas profissionais depois de abandonarem suas atividades contra as forças das trevas e o careca sem nariz? Como era sua vida cotidiana, a ordinary life tão desejada pelo menino que saiu do armário (sem trocadilhos, ele literalmente saiu de um armário, right?) para o estrelato e aventuras e perdas gigantescas???
Eu queria saber tudo. Queria.


E do pouco que me contou, pude saber como ele se tornara sócio definitivo de George, e até ajudava em algumas invenções. Disse como viajava constantemente para a filial em Hogsmead, e assim  podia ver os filhos James e Albus durante suas visitas à vila – embora procurasse se manter afastado na maior parte do ano, para não interferir na experiência dos dois na escola. Mas realmente não conseguia ficar longe todo o tempo.
Porém, apesar de ficarmos horas ali, nossa conversa ocorreu principalmente em reminiscências, e ainda não sei muito a respeito de sua vida depois de Hogwarts e da Segunda Guerra dos Bruxos. Uma frustração para mim, agora que me encontro fora do Beco Diagonal.
Mas é uma bobagem, eu sei. O importante ali foi estarmos perto novamente, eu saber que ele está feliz na sua vida absolutamente normal – again, na normalidade relativa que é a vida dos bruxos – e que ele conseguiu, afinal de contas, manter-se longe da confusão que marcou sua vida até os 17 anos. A confusão agora vem dos filhos adolescentes, da bagunça de uma casa cheia e, claro, das invenções malucas da loja.
Enfim, an ordinary, lovely and happy life.  
  

Deixei o Beco em estado de encantamento e emoção, com os bolsos carregados de feijões de todos os sabores gritando e um convite para voltar mais vezes.
Como seu eu conseguisse ficar longe.


Harry Potter e As Relíquias da Morte: Parte 2 (Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 2. David Yates, UK/US, 2011), o ultimo filme da saga Harry Potter no cinema, foi uma decepção tão grande, que saí da sessão com o desejo de apaga-lo da filmografia do HP... Exagerado assim, já que a decepção foi grande.

Sim, eu sei que o livro geralmente é melhor que o filme e tal e tal como todos dizem. Mas me inconforma que, hoje, com narrativas incríveis em todas as instâncias – literária, musical, cinematográfica, virtual... – nós ainda encontremos adaptações tão distantes do livro que trazem para as telas. Adaptações fracas, bobas, frias, sem alma.

A força e intensidade do livro se perdem em cenas e roteiros banais.

Esse último filme de HP foi assim para mim. A emoção durante o livro foi tão forte que reli o final na estação umas vinte vezes assim que acabei de ler o livro.

Esperava, no filme, sentir a força da conclusão de uma história que me acompanhou durante tantos anos e povoou meu imaginário e meu cotidiano. O lançamento dos livros e filmes eram acontecimentos felizes e cheios de expectativas.

A parte 1 de As Relíquias da Morte foi bastante impactante para mim. Saí do cinema e fiquei com o filme por dias. Sentimentos fortes, e uma expectativa maior ainda com a segunda parte.

Ugh, aqui caberia uma discussão sobre as expectativas...rs.

Mas não é o lugar.

O foco aqui é o desejo de continuar a encontrar Harry, a lembrar das suas histórias e do que elas trouxeram para mim, assim como imaginar o que está sendo a sua vida – casadinho com a Ginny, pai de três filhos, amigo ainda de Ronny e Hermione e, principalmente, dono dos seus dias e da sua vida.

 

PS: Ao procurar os nomes em inglês do que está relacionado a HP, e que aparecem aqui juntamente com a tradução em português – o mundo de Harry Potter se construiu com os dois -, encontrei uma wiki só do HP!!! Que viagem boa. Aqui vai o endereço: http://harrypotter.wikia.com/wiki/Main_Page.

 


Um comentário:

  1. Adorei subir os degraus de Amélie e passear no beco contigo... beijo cheio de saudade, minha bruxinha!
    Lulu!

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