Exterior. Noite. Uma floresta no meio do nada. Entramos na história durante uma discussão acalorada...
“... e todos esses elementos não se encontram em qualquer filme. Cita um exemplo para mim, se conseguir! Um fim do mundo com todas as catástrofes de que se tem notícia não é para qualquer um. Explosões. Famílias separadas. Romance. A terra se abrindo, o céu despencando. E uma big nave no final! Onde mais você pode encontrar isso?”, John disse. Estava exaltado e gesticulava muito. Tentava fazer predominar o seu ponto de vista. Tentava também se esquecer de onde se encontrava.
“Cusack, man, fica calmo. Agora não adianta mais ter pressa. Veja só, terra abrindo, naves espaciais e ainda assim o filme é chato que dói. Monótono. Sonífero. Além de estar muito longe do que realmente causou o fim do mundo, como a gente pode ver agora.” Nunca poderíamos pensar em Will Smith como um cara sensato, mas aqui está ele, tranquilo, em volta da fogueira, pensando na vida.
“Fácil para você dizer isso. Seu filme foi um sucesso de bilheteria, uma referência para os fins de mundo que se sucederam no cinema.”, disse a única mulher do grupo.
“Tá, isso é importante. Mas quem é Will para opinar sobre fins do mundo?”. Dennis resolveu palpitar na conversa.
“Cara, Eu Sou a Lenda! Eu, Robô!!! Além do que sou o primeiro grande sucesso de Emerich. Aqui, somos todos crias dele, mas eu vi mais fins de mundo enquanto a terra ainda estava inteira do que a maioria das pessoas pode ver agora.” Apesar do protesto, a voz de Will ainda era calma.
“Uhum”, Woody limpou a garganta, chamando a atenção para si. “Que pessoas?”. Son of a Bich, não é que ele tinha razão?
Silêncio total.
Indeed. Que pessoas?
“Como podemos ter certeza de que não há mais ninguém? Nos filmes, há sempre outros sobreviventes, além dos protagonistas. Embora só se saiba disso ao final.”Jake apresentou um ponto importante, embora estivesse ali somente porque a autora desta história o acha fofo demais para perecer no final dos tempos.
“Jake, meu querido, não dá para pensar o mundo de acordo com Rolland Emerich. Todos nós estamos aqui por causa dele, mas nem por isso ele estava certo. Ataques alienígenas, o retorno da era do gelo, previsões para 2012... a realidade foi muito pior do que todas as visões dele. Mesmo com todos os alertas, ninguém estava preparado para o que aconteceu...”, Amanda Peet interrompeu o que dizia. Só de pensar em como o mundo havia acabado ela tinha calafrios. Melhor parar por aqui.
“Para mim, o congelamento foi o mais legal.” Claro que Dennis ia pensar assim, o filme havia sido um de seus últimos sucessos. “A cena da biblioteca, o chão congelando... amazing.”
“Não acredito que você prefere um picolé de concreto que uma super nave espacial que salva a humanidade...” John Cusack realmente se recusava a largar o osso.
Mas a discussão era só um passatempo. Ao redor da fogueira, John Cusack, Woody Harrelson, Amanda Peet, Will Smith, Dennis Quaid, Jake Gyllenhaal e Danny Glover sabiam que nenhuma argumentação iriar mudar o fim dessa história.
Mas o silêncio era muito pesado, e Danny resolveu retornar a discussão:
“Para mim, um dos melhores é O Núcleo.”
Protesto coletivo.
“Como assim? O troço é horrível!!!” “Hahaha, entrar no centro da terra pelas placas tectônicas!”. “Nem Aaron Eckhart salva o filme!”. Tudo isso foi o que deu para ouvir no meio da confusão.
“Na verdade, eu gostei muito do filme também”, disse Amanda. Diante dos olhares que recebeu, ela acrescentou: “Gostei mesmo. Nem todo filme ruim é desprezível.” Ela concluiu, rindo.
Isso era verdade, e todos sabiam. Afinal, se não fosse assim, como justificar que seus filmes de fim de mundo houvessem sido um sucesso de bilheteria? Nem sempre gostamos do que é bom, e muitas vezes adoramos o que é realmente muito ruim.
“Ok, mas isso não justifica dizer que 2012 é um filme bom...” Will Smith também não conseguia dar o braço a torcer. A vida ia ficar complicada se ele e Cusack não cedessem um pouco.
Mas, a essa altura, nem Cusack protestou. O silêncio dominou o círculo, e só se ouvia o crepitar da fogueira. Os pensamentos eram quase visíveis, de tão intensos. Cada um mergulhado em sua contemplação, os passos que se aproximavam passaram despercebidos.
Quando eles notaram uma presença estranha, a criatura já estava muito próxima.
“Hehehey, o que é isso? Reunião das almas perdidas?”, disse o andarilho, em voz forte.
O susto foi épico. Quem diabos era esse que se aproximava? Holy shit, mais um ataque? Bom, se todos tivessem mantido o controle num primeiro momento, teriam reconhecido a voz. Mas não, a surpresa foi aterrorizante. Vários minutos se passaram antes que eles se acalmassem a ponto de verem quem estava ali.
Bruce Willis.
“Pensaram que estavam sozinhos no mundo, heim?”, Bruce era observador. “Quer dizer que o mundo acaba e só os escolhidos de Emerich sobrevivem? E, além de sobreviverem, ficam parados esperando o mundo acabar de novo? Losers.”Esse era Bruce, definitivamente.
Depois do susto, a alegria. E as perguntas:
“Há mais alguém no mundo? De onde você vem? Para onde está indo?”. E, afinal, a mais importante: “Como você sobreviveu?”
Bruce riu muito. “Guys, eu sou duro de matar. Já perderam a noção das coisas? Afinal, o mundo não acabou há tanto tempo assim. Não esqueçam que eu sempre encontro uma alternativa. O bandido pode sobreviver a quinze mortes, minha casa pode explodir um milhão de vezes, meu avião pode se espatifar no chão, mas eu continuo.” Vamos ser justos, ele estava certo. E havia somente uma gota de convencimento na sua voz, como não poderia deixar de ser.
“Enquanto houver ar, chão sob os meus pés, eu continuo. Careca, gordo, dentro ou fora das telas, eu estou aqui. Motherfuckers!!! Eles acham que conseguirão acabar comigo! Eles podem me matar quantas vezes quiserem, I'll be Back!!!”
Ok, a frase era emprestada, mas causou efeito. Esse era um discurso digno de final de filme. Como o susto, quase épico. Repleto de energia, esperança, cafonice e instinto de sobrevivência.
“A escolha agora é de vocês. Não me agrada muito carregar o peso de Emerich nas costas, mas vocês podem vir comigo. Enquanto eu estiver aqui, a luta continua.”
Bruce Willis parecia um gigante. Mais alto e careca que nunca, emanava a força de um verdadeiro lider. Perplexos, todos levantaram e se moveram – algo que não faziam já há algum tempo. Bruce não esperou a resposta. Virou as costas e continuou seu caminho. Atrás dele, John, Amanda, Will, Danny, Dennis, Jake e até Woody seguiram em silêncio.
A batalha, afinal, estava apenas começando.
Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles (Battle: Los Angeles). Jonathan Liebesman, US, 2011. Esta é uma história que queria escrever há tempo. Na verdade, foi a ideia deste texto que me levou à concepção deste blog. Depois de assistir a 2012 (Rolland Emerich, US, 2009), pensei em como seria se os envolvidos em diversos fins de mundo cinematográficos se deparassem com o fim. Qual seria a sua referência? Seus filmes? Quem sobreviveria? Outros filmes de Emerich citados no texto são: Independence Day (1996, US) e O Dia Depois de Amanhã (The Day After Tomorrow, 2004, US). Deste último eu gosto muito. A minha sessão foi muito realista também: o cinema estava um gelo e havia uma criança de um ano no cinema, que chorou muito. Fim do mundo total. E amei o chão da biblioteca congelando. Outra citação no texto é O Núcleo (The Core, Jon Ames, US, 2003). Mesmo que meio longa, vale aqui contar uma outra história: estava assistindo a esse filme na TV quando minha sobrinha, que é geóloga, chegou. Contei para ela a história – o núcleo da terra parou, o que causou vários problemas na terra. Para impulsionar o núcleo a voltar a girar, Aaron Eckhart vai ao centro da terra. A reação dela? Que mentirada. Ok. Aí ela continuou: bom, o cara para fazer isso tem de ser um geofísico. Check, isso mesmo. Se o núcleo para, há uma pane em tudo que é eletromagnético. Check. Para entrar no centro da terra, precisa ser pelas placas tectônicas. Check. Haha, onde está a mentira??? Rs.